A menina triste

Mary Jane teve um dia terrível. A apresentação da tese não podia ter corrido pior. Lá fora, no pátio, tiravam-se fotos sob uma nuvem de fumo de tabaco. No segundo seguinte chegavam às redes sociais. Mary tomou um duche e deixou escapar algumas lágrimas que se refugiaram no ralo. Enquanto preparava o jantar à mãe, reparou que esta tinha algo escondido no assento da cadeira de rodas. Temia que fosse um presente. Não conseguira disfarçar a frustração desde o momento em que entrou em casa e agora a mãe devia estar a hesitar em entregar-lhe a recompensa. A mãe conhecia-a melhor do que ela mesmo. Mary Jane disfarçou. Fingiu não reparar no presente mas só a muito custo travou uma lágrima que pretendia descer-lhe o rosto. Naquela noite, absteve-se de ligar o computador. Não estava preparada para ver tanta alegria e sucesso das amigas. Abriu um livro, olhou para as letras mas foi incapaz de focar. Um ligeiro silvo das rodas em andamento aproximou-se da porta do quarto. Afastou-se de seguida. A rapariga abriu a porta e lá estava um pequeno mas bonito embrulho. Mary removia cuidadosamente o papel e com um nó na garganta ergueu um lindo vestido azul. Na etiqueta balançava um pequeno postal. Nas costas lia-se: "Obrigado por seres a melhor filha do mundo..... Tou a gozar, mesmo sendo eu a escrever a porcaria da tese conseguiste estragar tudo. Impressionante. Só precisavas de apresentar e nem isso foste capaz de fazer. Toma lá este vestido e vai tirar fotos com as tuas colegas. É azul para fazer pandã com as cores do facebook, pode ser que não reparem nessa tromba. Quem sabe ainda conheces algum advogado ou um médico bêbado." No outro dia a mãe tinha as rodas da cadeira furadas e Mary Jane juntou-se ao Isis.

Comentários